FREINET E A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Patrícia Alves de Lima
Profª. Drª. Lêda Gonçalve de Freitas
RESUMO:Este artigo reflete sobre a importância de Freinet na ludicidade. Especificamente, busca
compreender as influências deste teórico na fundamentação da ludicidade na Educação
infantil. Para alcance dos objetivos foi realizado uma pesquisa bibliográfica envolvendo o
lúdico e os principais conceitos da proposta pedagógica de Freinet. Na primeira parte do
artigo destaca-se a ludicidade, sua evolução histórica e o seu papel na educação infantil. Em
seguida, busca-se apresentar a proposta pedagógica de Freinet e relacionar o pensamento do
autor com o lúdico. As conclusões desse estudo teórico são: A importância das ideias de
Freinet para potencializar cada vez mas a ludicidade na educação Infantil. A presença
constante da proposta pedagogia de Freinet nas salas de aula.
Palavras- chaves:. Freinet, Lúdico e Educação Infantil.
PROPOSTA PEDAGÓGICA DE FREINET
Célestin Freinet nasceu em 15 de outubro de 1896, no sul da França em Gars um
povoado na região da Provença. Durante sua infância foi pastor de rebanhos, antes de
começar a cursar o magistério. Freinet interrompeu seus estudos em 1914 para lutar na
Primeira Guerra, durante sua participação na guerra teve seus pulmões afetados pelos gases
tóxicos do campo de batalha.
Em 1920, começou a lecionar na aldeia de Bar-sur-Loup, onde pôs em prática alguns
de seus principais experimentos, como a aula-passeio e o livro da vida. Em 1925, filiou-se ao
Partido Comunista Francês. Em 1928, já casado com Élise Freinet (artista plástica) que
tornou-se sua parceira e divulgadora, mudou-se para Saint-Paul de Vence, iniciando intensa
atividade educacional. Cinco anos depois, foi exonerado do cargo de professor. Em 1935, o
casal Freinet construiu uma escola própria em Vence.
Durante a Segunda Guerra, o educador foi preso e adoeceu num campo de concentração alemão. Em 1956, liderou a vitoriosa campanha 25 Alunos por Classe. No ano seguinte, os seguidores de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de 40 países.
Em 1924 já existiam congressos que discutiam uma Educação Nova, grandes educadores da época como Ferrière, Claparède, Bovet e Cousinet que compartilhavam suas experiências vividas, mas Freinet observou e chegou a conclusão que a Educação Nova era aplicada em escolas que possuíam condições de possuir materiais específicos e boas condições. Para Freinet a realidade era outra pois ele trabalhava com crianças mas carentes, e buscava uma Educação Nova que pudesse ser aplicada a todas as crianças da sociedade sem distinção. E acima de tudo que respeitasse a individualidade de cada criança.
Durante suas aulas adquiriu o hábito de registrar o comportamento de cada criança que julgava interessante por meio de situações de sucesso e fracasso, com isso Freinet conseguia melhor compreender a personalidade de cada aluno. Então começou a estudar outros autores como Rousseau, Rabelais, Montaigne e especialmente Pestalozzi. Com este estudo começou a questionar o ensino tradicional nas escolas, onde tudo era hierarquizado, com normas rígidas como: horários, conteúdos e carteiras enfileiradas entre muitos outros aspectos. Freinet sentia a necessidade de uma pedagogia voltada para os seguintes princípios: senso cooperativo, senso de responsabilidade, sociabilidade, autonomia pessoal, criatividade, comunicação, afetividade, reflexão individual e coletiva. Desde que as condições exteriores sejam favoráveis à germinação, há uma força que desperta, cresce, agita o pão de trigo, que começa a escala para o esplendor do seu servir( Freinet, 1998, p. 18).
Era possível perceber que os alunos tinham um grande interesse em descobrir o mundo, as coisas que estavam em seu redor, mas que esta postura mudava assim que as crianças entravam em sala de aula, porque não demonstravam nem um interesse ou curiosidade nos conteúdos ensinados. Por meio desta observação Freinet criou a aula passeio, onde as crianças saiam do ambiente de sala e aula para descobrir, estudar e observar o mundo, durante essas aulas os alunos podiam aprender de forma mais lúdica e prazerosa para eles, porque o interesse dos alunos ao estava dentro da sala de aula, mas sim fora dela. Ao retornarem dessas aulas passeio os alunos registravam tudo que tinha observado fazendo assim que as crianças exercitassem de forma prazerosa o habito da escrita e da leitura em sua sala de aula, para Freinet sua proposta de trabalho abria as portas e as paredes deixaram de ser
barreiras e a vida entrava dentro da classe junto com a luz do sol..." (FREINET, 1969, p. 21).
Durante as aulas passeio não existia a distinção entre professor aquele que iria transmitir seus
conhecimentos, e o aluno que iria aprender, todos estavam aprendendo e aprendendo juntos.
Freinet percebeu que os textos escritos por seus alunos após as aulas passeios, eram lidos e
trabalhados em sala de aula mas que logo ficavam guardados em armários sem nem uma
utilidade, então Freinet teve a brilhante idéia e imprimir esses textos e distribuí-los para os
pais dos alunos e para a sociedade para que estes textos se espalhassem na comunidade. Ao
final os alunos iam montando um livro com seus textos escritos ao longo da vida. Os textos só
eram impressos se fosse do interesse do autor (aluno), e antes de passar pelo tipógrafo era
feita a correção coletiva ou a auto-correção para que os alunos aprendessem com seus
próprios erros.
A idéia do Livro da Vida surgiu quando Freinet propôs para seus alunos a construção de um diário de classe coletivo onde cada alunos teriam a liberdade de escrever, desenhar ou pintar o que quisesse e com os mais diversos assuntos, não somente assuntos escolares. Porém para Freinet ainda não estava completa sua idéia, os textos eram lidos por seus alunos, depois levados para serem lidos pelos pais e amigos das crianças, e logo em seguida esquecidos, foi quando um amigo de Freinet que morava no norte da França tomou conhecimento sobre o trabalho que estava sendo realizado por Freinet no sul da França e escreveu para Freinet falando do seu interesse de também trabalhar com suas crianças
utilizando as mesmas técnicas na produção e impressão de textos. Eles juntos criaram a Correspondência interescolar onde as crianças de escolas diferentes se comunicavam por meio
de desenhos, cartas e textos. Por meio desta atividade os alunos ampliavam cada vez mais
seus conhecimentos, porque descobriam a cultura de outras comunidades.
Freinet defendia que os alunos aprendiam cada vez mais por meio dos trabalhos
desenvolvidos por eles (pedagogia do trabalho). Quando a criança sentir, por um lado, que lhe dão a liberdade de se exprimir e que, por outro, a tipografia pode materializar o seu pensamento para propagar, dá-se a abundância de textos e histórias. Não temam de início a leitura nem o comprimento
dos textos nem a sua complicação; procurem, sobretudo, não fazer dizer certas
palavras que lhes pareçam mais cômodas de ler. A criança sentiu o seu texto, ela lê-
lo-á, ela retê-lo-á. (Freinet, 1968, p. 350).
Um dos princípios da proposta pedagógica de Freinet são as invariantes pedagógicas elas
receberam esse nome porque independente do país ou região onde elas sejam aplicadas elas
nunca vão variar, com a utilização das invariantes no processo de ensino-aprendizagem, a
educação acontece de forma natural conseguindo assim uma formação integral do aluno. Para
Freinet educar é construir juntos. Segundo Freinet (1973, p.53) as invariantes são:
1. A criança é da mesma natureza que o adulto.
2. Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
3. O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico
e constitucional.
4. A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto siginifica
obedecer passivamente uma ordem externa.15
6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular,
ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais
vantajosa.
8. Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas
nas quais não participa.
9. É fundamental a motivação para o trabalho.
10. É preciso abolir a escolástica.
a. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o
entusiasmo.
b. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
11. Não são a observação, a explicação e a demonstração - processos essenciais da escola
- as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experência tateante,que
é uma conduta natural e universal.
12. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando
está integrada no tateamento experimental,onde se encontra verdadeiramente a serviço
da vida.
13. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas
sim pela experîencia. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos
bois.
14. A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito
fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a
escolástica.
15. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade
fica fixada na memória por meio de palavras e idéias.
16. A criança não gosta de receber lições autoritárias.
17. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua
vida.
18. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso carcteriza
uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
19. As notas e classificações constituem sempre um erro.
20. Fale o menos possível.
21. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho
individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.16
22. A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
23. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e
não passam de paliativo.
24. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo
trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
25. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
26. A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o
que é sempre um erro e cria barreiras.
27. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário
na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
28. Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua
vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da
dignidade.
29. A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com
o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
30. É preciso ter esperança otimista na vida.
Freinet não possui apenas uma proposta pedagógica, seus ensinamentos vão muito
além de uma simples proposta, ele criou uma filosofia de vida onde o foco principal é a
valorização do aluno. Sua filosofia ensina como educar crianças mais críticas perante a
sociedade.
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