SONHANDO COM A ARTE

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terça-feira, 20 de maio de 2014

O Poder das palavras - O Cego e o Publicitário

OBJETIVOS GERAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL



OBJETIVOS GERAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL 


De acordo com a LDB 9.394/96, a Educação Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
A prática pedagógica na/da Educação Infantil, segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, Volume 1), deve ser organizada de modo que as
crianças desenvolvam as seguintes capacidades:
* Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações;
* Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, sua potencialidade e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidados com a própria saúde e bem-estar;
* Estabelecer vínculos afetivos e troca entre adultos e crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e integração social;
* Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes
de ajuda e colaboração;
* Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente, valorizando atitudes que
contribuam para sua conservação; 
* Brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades;
* Utilizar as diferentes linguagens: corporal, musical, plástica, oral e escrita, ajustada às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido;
* Expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos de avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;
* Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade.

A Resolução n° 5 de 2009- Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (BRASIL, 2009), observa:
Artigo 8°- A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito á proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, á brincadeira, à convivência e à
interação com outras crianças.

Ainda, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009) consideram que a função sociopolítica e pedagógica das unidades de Educação Infantil inclui
(Resolução CNE/CEB n° 05/09 Artigo 7°):
a- Oferecer condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos civis,humanos e sociais.
b- Assumir a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as famílias.
c- Possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas.
d- Promover a igualdade de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância.
e- Construir novas formas sociabilidade e subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação
etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa.

quinta-feira, 15 de maio de 2014



PORTFÓLIO.... QUE ISSO??????



Portfólio 

 O portfólio - é um arquivo individual da criança, que contém uma seleção de produções que mostram o desenvolvimento da sua aprendizagem. Neste arquivo são colecionadas produções que refletem vivências,
interesses e esforços, bem como a visão de mundo e a bagagem cultural da criança: as primeiras intenções gráficas e os primeiros registros espontâneos da escrita, desenhos, pinturas, colagens, histórias e fotos.

 O portfólio possibilita o acompanhamento dos progressos realizados pela criança e oferece, ao mesmo tempo, oportunidades de desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade, já que esta coletânea de produções, que pode e deve ser vista, revista e manuseada pela criança, a estimula a refletir e autoavaliar-se em função daquilo que ela já conseguiu produzir. O portfólio espelha a individualidade e a própria
autoria da criança, revelando as suas competências e indicando os caminhos a serem trilhados em direção à autonomia.  E não é apenas a criança que faz o acompanhamento de seu desenvolvimento através do portfólio. Professores e pais também têm no portfólio uma excelente ferramenta de acompanhamento das descobertas, aquisições e progressos que seus alunos e filhos fazem, já que ele transita entre escola e casa.

A TURMINHA DO EI-41......



 DANDO UM SHOW......


RODINHA TEATRAL







UMA DIVERTIDA  MANEIRA DE CANTAR BRINCAR E DE FAZER A RODINHA,,,,,


DESENHANDO NO PARQUINHO.....


QUE ALEGRIA !!!!!

ELES SÃO MARAVILHOSOS!!!!



FESTA DO DIA DAS MÃES EI-34





BRINCANDO E DESENHANDO NO PARQUINHO.... EI-41



DESENHANDO......
































O Brincar na Educação Infantil: Jogos, Brinquedos e Brincadeiras - Um Olhar Psicopedagógico



O Brincar na Educação Infantil: Jogos, Brinquedos e Brincadeiras - Um Olhar Psicopedagógico

Fabiane Das Neves Fantacholi*

Resumo
O presente artigo visa analisar a importância do brincar no desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil, sob a visão psicopedagógica. Tem como objetivo conhecer o significado do brincar, conceituar os principais termos utilizados para designar o ato de brincar, tornando também fundamental compreender o universo lúdico, onde a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência dos outros, estabelece relações sociais, constrói conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente, e ainda, os benefícios que o brincar proporciona no ensino-aprendizagem infantil. Ainda este estudo traz algumas considerações sobre os jogos, brincadeiras e brinquedos e como influenciam na socialização das crianças. Portanto, para realizar este trabalho, utilizamos a pesquisa bibliográfica, fundamentada na reflexão de leitura de livros, artigos, revistas e sites, bem como pesquisa de grandes autores referente a este tema. Desta forma, este estudo proporcionará uma leitura mais consciente acerca da importância do brincar na vida do ser humano, e, em especial na vida da criança.

1 Introdução

Brincar é uma importante forma de comunicação, é por meio deste ato que a criança pode reproduzir o seu cotidiano, num mundo de fantasia e imaginação. O ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da criança, pois facilita a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade, estabelecendo, desta forma, uma relação estreita entre jogo e aprendizagem.
Para definir a brincadeira infantil, ressaltamos a importância do brincar para o desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo. Para tanto, se faz necessário conscientizar os pais, educadores e sociedade em geral sobre à ludicidade que deve estar sendo vivenciada na infância, ou seja, de que o brincar faz parte de uma aprendizagem prazerosa não sendo somente lazer, mas sim, um ato de aprendizagem, e ainda a importância desta ludicidade nas intervenções e prevenções de problemas de aprendizagem na visão da psicopedagogia. Neste contexto, o brincar na educação infantil proporciona a criança estabelecer regras constituídas por si e em grupo, contribuindo na integração do indivíduo na sociedade. Deste modo, à criança estará resolvendo conflitos e hipóteses de conhecimento e, ao mesmo tempo, desenvolvendo a capacidade de compreender pontos de vista diferentes, de fazer-se entender e de demonstrar sua opinião em relação aos outros, e ainda e nesse ato que podemos diagnosticar e prevenir futuros problemas de aprendizagem infantil. É importante perceber e incentivar a capacidade criadora das crianças, pois esta se constitui numa das formas de relacionamento e recriação do mundo, na perspectiva da lógica infantil.
Neste sentido, o objetivo central deste estudo é analisar a importância do brincar na Educação Infantil, numa visão psicopedagógica, pois segundo os autores pesquisados, este é um período fundamental para a criança no que diz respeito ao seu desenvolvimento e aprendizagem de forma significativa.

2 DEFINIÇÕES SOBRE O ATO DE BRINCAR

Ao longo da história da humanidade, foram inúmeros os autores que se interessaram, direta ou indiretamente, pela questão do brincar, do jogo, do brinquedo e da brincadeira.
Brincar, segundo o dicionário Ferreira (2003), é "divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar", também pode ser "entreter-se com jogos infantis", ou seja, brincar é algo muito presente nas nossas vidas, ou pelo menos deveria ser.
Do ponto de vista de Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, mas sim desenvolver-se integralmente. Caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Todavia, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade.
O jogo pelo ponto de vista educacional, segundo Antunes (2003) significa divertimento, brincadeira, passatempo, pois em nossa cultura o termo jogo é confundido com competição. Ainda o autor relata que os jogos infantis pode até incluir uma ou outra competição, mas visando sempre a estimular o crescimento e aprendizagem com relação interpessoal, entre duas ou mais pessoas realizada através de determinadas regras, ainda que jogo seja uma brincadeira que envolve regras.
Para Kishimoto (2002) o brinquedo é diferente do jogo. Brinquedo é uma ligação intima com a criança, na ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. Ainda segundo o dicionário Ferreira (2003) brinquedo é “objeto destinado a divertir uma criança, suporte da brincadeira”, sendo assim ele estimula a representação e a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade.
Vygotsky (1998) relata sobre o papel do brinquedo, sendo um suporte da brincadeira e ainda o brinquedo tendo uma grande influência no desenvolvimento da criança, pois o brinquedo promove uma situação de transição entre a ação da criança com objeto concreto e suas ações com significados, assim veremos ao longo do artigo.
Ainda segundo Kishimoto (2002, p. 21) relata que “O vocábulo brinquedo não pode ser reduzido a pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem dimensão material, cultural e técnica.” O objeto brinquedo é um suporte da brincadeira, é a ação que a criança desempenha ao brincar. Assim podemos concluir que brinquedo e brincadeira esta relacionada diretamente com a criança/sujeito e não se confundem com o jogo em si.

2.1 O PAPEL DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Vygotsky (1998) acentua o papel ao ato de brincar na constituição do pensamento infantil, pois é brincando, jogando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos. Ainda podemos dizer que o ato de brincar acontece em determinados momentos do cotidiano infantil, neste contexto, Oliveira (2000) aponta o ato de brincar, como sendo um processo de humanização, no qual a criança aprende a conciliar a brincadeira de forma efetiva, criando vínculos mais duradouros. Assim, as crianças desenvolvem sua capacidade de raciocinar, de julgar, de argumentar, de como chegar a um consenso, reconhecendo o quanto isto é importante para dar início à atividade em si.
O brincar se torna importante no desenvolvimento da criança de maneira que as brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida da criança desde os mais funcionais até os de regras. Estes são elementos elaborados que proporcionarão experiências, possibilitando a conquista e a formação da sua identidade. Como podemos perceber, os brinquedos e as brincadeiras são fontes inesgotáveis de interação lúdica e afetiva. Para uma aprendizagem eficaz é preciso que o aluno construa o conhecimento, assimile os conteúdos. E o jogo é um excelente recurso para facilitar a aprendizagem, neste sentido, Carvalho (1992 p. 28) afirma que: “[...] o ensino absorvido de maneira lúdica, passa a adquirir um aspecto significativo e afetivo no curso do desenvolvimento da inteligência da criança, já que ela se modifica de ato puramente transmissor a ato transformador em ludicidade, denotando-se, portanto em jogo”.
As ações com o jogo devem ser criadas e recriadas, para que sejam sempre uma nova descoberta e sempre se transformem em um novo jogo, em uma nova forma de jogar. Quando a criança brinca, sem saber fornece várias informações ao seu respeito, no entanto, o brincar pode ser útil para estimular seu desenvolvimento integral, tanto no ambiente familiar, quanto no ambiente escolar.
É brincando que a criança aprende a respeitar regras, a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo e ao outro. Por meio do universo lúdico que a criança começa a expressar-se com maior facilidade, ouvir, respeitar e discordar de opiniões, exercendo sua liderança, e sendo liderados e compartilhando sua alegria de brincar. Em contrapartida, em um ambiente sério e sem motivações, os educandos acabam evitando expressar seus pensamentos e sentimentos e realizar qualquer outra atitude com medo de serem constrangidos. Zanluchi (2005, p. 91) afirma que “A criança brinca daquilo que vive; extrai sua imaginação lúdica de seu dia-a-dia”, portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida.
Vygotsky (1998) toma como ponto de partida a existência de uma relação entre um determinado nível de desenvolvimento e a capacidade potencial de aprendizagem. Defende a ideia de que, para verificar o nível de desenvolvimento da criança, temos que determinar pelo menos, dois níveis de desenvolvimento. O primeiro deles seria o nível de desenvolvimento efetivo, que se faz através dos testes que estabelecem a idade mental, isto é, aqueles que a criança é capaz de realizar por si mesma, já o segundo deles se constituiria na área de desenvolvimento potencial, que se refere a tudo aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda dos demais, seja por imitação, demonstração, entre outros. Assim, significa que a criança pode fazer hoje com a ajuda dos adultos ou dos iguais certamente fará amanhã sozinha.
Para Vygotsky, citado por Baquero (1998), a brincadeira, o jogo são atividades específicas da infância, na quais a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos, sendo uma atividade com contexto cultural e social. O autor relata sobre a zona de desenvolvimento proximal que é a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver, independentemente, um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz.
Na visão de Vygotsky (1998) o jogo simbólico é como uma atividade típica da infância e essencial ao desenvolvimento infantil, ocorrendo a partir da aquisição da representação simbólica, impulsionada pela imitação. Desta maneira, o jogo pode ser considerado uma atividade muito importante, pois através dele a criança cria uma zona de desenvolvimento proximal, com funções que ainda não amadureceram, mas que se encontra em processo de maturação, ou seja, o que a criança irá alcançar em um futuro próximo. Aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida, é fácil concluir que o aprendizado da criança começa muito antes de ela freqüentar a escola. Todas as situações de aprendizado que são interpretadas pelas crianças na escola já têm uma história prévia, isto é, a criança já se deparou com algo relacionado do qual pode tirar experiências.
Vygotsky (1998), ao discutir o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincadeira de faz-de-conta, como brincar de casinha, brincar de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo. Faz referência a outros tipos de brinquedo, mas a brincadeira faz-de-conta é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual, o mesmo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento.
A criança se torna menos dependente da sua percepção e da situação que a afeta de imediato, passando a dirigir seu comportamento também por meio do significado dessa situação, Vygotsky (1998, p. 127) relata que “No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força determinadora. A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê.” No brincar, a criança consegue separar pensamento, ou seja, significado de uma palavra de objetos, e a ação surge das idéias, não das coisas.
Segundo Craidy e Kaercher (2001), Vygotsky relata novamente que quando uma criança coloca várias cadeiras uma através da outra e diz que é um trem, percebe-se que ela já é capaz de simbolizar, esta capacidade representa um passo importante para o desenvolvimento do pensamento da criança. Brincando, a criança exercita suas potencialidades e se desenvolve, pois há todo um desafio, contido nas situações lúdicas, que provoca o pensamento e leva as crianças a alcançarem níveis de desenvolvimento que só às ações por motivações essenciais conseguem. Elas passam a agir e esforça-se sem sentir cansaço, não ficam estressadas porque estão livres de cobranças, avançam, ousam, descobrem, realizam com alegria, sentindo-se mais capazes e, portanto, mais confiantes em si mesmas e dispostas a aprender.
Assim, seguindo este estudo os processos de desenvolvimento infantil apontam que o brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e aprendizagem. De acordo com Vygotsky (1998), um dos principais representantes dessa visão, o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e/ou adultos. Tal concepção se afasta da visão predominante da brincadeira como atividade restrita à assimilação de códigos e papéis sociais e culturais, cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança e a sua integração à sociedade.
Vygotsky deixa claro que o tema brincar na educação infantil tem sua origem naquilo que à criança vive no seu dia a dia, nas relações com seus pares e principalmente, nas relações com adultos. É uma situação imaginária, um faz de conta criada pela criança, mas que só pode ser criada por ela graças ao material abstraído nas interações.

2.2 EDUCAÇÃO E LUDICIDADE

Na educação de modo geral, e principalmente na Educação Infantil o brincar é um potente veículo de aprendizagem experiencial, visto que permite, através do lúdico, vivenciar a aprendizagem como processo social. A proposta do lúdico é promover uma alfabetização significativa na prática educacional, é incorporar o conhecimento através das características do conhecimento do mundo. O lúdico promove o rendimento escolar além do conhecimento, oralidade, pensamento e o sentido. Entretanto, compreender a relevância do brincar possibilita aos professores intervir de maneira apropriada, não interferindo e descaracterizando o prazer que o lúdico proporciona. Portanto, o brincar utilizado como recurso pedagógico não deve ser dissociado da atividade lúdica que o compõe, sob o risco de descaracterizar-se, afinal, a vida escolar regida por normas e tempos determinados, por si só já favorece este mesmo processo, fazendo do brincar na escola um brincar diferente das outras ocasiões. A incorporação de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica podem desenvolver diferentes atividades que contribuem para inúmeras aprendizagens e para a ampliação da rede de significados construtivos tanto para crianças como para os jovens.
Para Vygotsky (1998), o educador poderá fazer o uso de jogos, brincadeiras, histórias e outros, para que de forma lúdica a criança seja desafiada a pensar e resolver situações problemáticas, para que imite e recrie regras utilizadas pelo adulto. O lúdico pode ser utilizado como uma estratégia de ensino e aprendizagem, assim o ato de brincar na escola sob a perspectiva de Santos (2002) está relacionada ao professor que deve apropriar-se de subsídios teóricos que consigam convencê-lo e sensibilizá-lo sobre a importância dessa atividade para aprendizagem e para o desenvolvimento da criança.
Com isso, é possível entender que o brincar auxilia a criança no processo de aprendizagem. Ele vai proporcionar situações imaginárias em que ocorrerá no desenvolvimento cognitivo, facilitando a interação com pessoas as quais contribuirão para um acréscimo de conhecimento.
A essas ideias associamos nossas convicções sobre o brincar como prática pedagógica, sendo um recurso que pode contribuir não só para o desenvolvimento infantil, como também para o cultural. Brincar não é apenas ter um momento reservado para deixar a criança à vontade em um espaço com ou sem brinquedos e sim um momento que podemos ensinar e aprender muito com elas. A atividade lúdica permite que a criança se prepare para a vida, entre o mundo físico e social. Observamos, deste modo que a vida da criança gira em torno do brincar, é por essa razão que pedagogos têm utilizado a brincadeira na educação, por ser uma peça importante na formação da personalidade, tornando-se uma forma de construção de conhecimento.
Importante para o desenvolvimento, físico, intelectual e social, o jogo vem ampliando sua importância deixando de ser um simples divertimento e tornando-se ponte entre a infância e a vida adulta. Vygotsky (1998) afirma que o jogo infantil transforma a criança, graças à imaginação, os objetivos produzidos socialmente. Assim, seu uso é favorecido pelo contexto lúdico, oferecendo à criança a oportunidade de utilizar a criatividade, o domínio de si, à firmação da personalidade, e o imprevisível.
De acordo com Kishimoto (2002) o jogo é considerado uma atividade lúdica que tem valor educacional, a utilização do mesmo no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino aprendizagem, o jogo é um impulso natural da criança funcionando, como um grande motivador, é através do jogo obtém prazer e realiza um esforço espontâneo e voluntário para atingir o objetivo, o jogo mobiliza esquemas mentais, e estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço, integra várias dimensões da personalidade, afetiva, social, motora e cognitiva.
O desenvolvimento da criança e seu consequente aprendizado ocorrem quando participa ativamente, seja discutindo as regras do jogo, seja propondo soluções para resolvê-los. É de extrema importância que o professor também participe e que proponha desafios em busca de uma solução e de participação coletiva, o papel do educador neste caso será de incentivador da atividade. A intervenção do professor é necessária e conveniente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação social, ser indispensável para o desenvolvimento do conhecimento.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 23):
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.
Por isso o educador é a peça fundamental nesse processo, devendo ser um elemento essencial. Educar não se limita em repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesmo, e da sociedade. É oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar. Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 30):
O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano.
Educar é acima de tudo a inter-relação entre os sentimentos, os afetos e a construção do conhecimento. Segundo este processo educativo, a afetividade ganha destaque, pois acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar o raciocínio do aluno. E muitos educadores têm a concepção que se aprende através da repetição, não tendo criatividade e nem vontade de tornar a aula mais alegre e interessante, fazendo com que os alunos mantenham distantes, perdendo com isso a afetividade e o carinho que são necessários para a educação.
Santos (2002) acrescenta que educar não se limita a repassar informações ou até mesmo mostrar um caminho que o educador considera o mais certo, mas sim em ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. Ainda, é oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar.
A criança necessita de estabilidade emocional para se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de aproximar o sujeito e a ludicidade em parceria com professor-aluno, ajuda a enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. E quando o educador dá ênfase às metodologias que alicerçam as atividades lúdicas, percebe-se um maior encantamento do aluno, pois se aprende brincando.
Santos (2002) refere-se ao significado da palavra ludicidade que vem do latim ludus e significa brincar. Onde neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e brincadeiras, tendo como função educativa do jogo o aperfeiçoamento da aprendizagem do indivíduo.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998) a partir da importância da ludicidade que o professor deverá contemplar jogos, brinquedos e brincadeiras, como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando à criança uma aprendizagem prazerosa. Assim, a ludicidade tem conquistado um espaço na educação infantil.
O brinquedo é a essência da infância e permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção de conhecimento da criança. Ela estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e entusiasmos, suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades.
Ao assumir a função lúdica e educativa, a brincadeira propicia diversão, prazer, potencializa a exploração, a criação, a imaginação e a construção do conhecimento. Brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, principalmente para as crianças da Educação Infantil. Dessa forma, a brincadeira já não deve ser mais atividade utilizada pelo professor apenas para recrear as crianças, mas como atividade em si mesma, que faça parte do plano de aula da escola. Portanto, cabe ao educador criar um ambiente que reúna os elementos de motivação para as crianças. Criar atividades que proporcionam conceitos que preparam para a leitura, para os números, conceitos de lógica que envolve classificação, ordenação, dentre outros. Motivar os alunos a trabalhar em equipe na resolução de problemas, aprendendo assim expressar seus próprios pontos de vista em relação ao outro.
O processo de ensino e aprendizagem na escola deve ser construído, então, tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança, num dado momento e com sua relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido, e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, supostamente adequados à faixa etária e ao nível de conhecimentos e habilidades de cada grupo de crianças. O percurso a ser seguido nesse processo estará demarcado pelas possibilidades das crianças, isto é, pelo seu nível de desenvolvimento potencial.
Enfim, estar ao lado do aluno, acompanhando seu desenvolvimento, para levantar problemas que o leve a formular hipóteses. Brinquedos adequados para idade, com objetivo de proporcionar o desenvolvimento infantil e a aquisição de conhecimentos em todos os aspectos.
A partir da leitura desses autores podemos verificar que a ludicidade, as brincadeiras, os brinquedos e os jogos são meios que a criança utiliza para se relacionar com o ambiente físico e social de onde vive, despertando sua curiosidade e ampliando seus conhecimentos e suas habilidades, nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo, e assim, temos os fundamentos teóricos para deduzirmos a importância que deve ser dada à experiência da educação infantil.

3 A PSICOPEDAGOGIA E O ATO DE BRINCAR

A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem. Conforme Bossa (2007) este termo refere-se à aplicação da psicologia à pedagogia, interligando-se a vários outros interdisciplinares que compõem seu referencial teórico para prevenção e correção do seu objeto de estudo a aprendizagem humana em seus estados normais e patológicos, bem como a influência do meio como: família, escola, sociedade no seu desenvolvimento.
A Psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para pensar sobre as questões de ensino-aprendizagem. Sendo assim, está intimamente ligada ao ato de brincar, como fonte de conhecimento. Por meio de técnicas e métodos próprios o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como um processo mais abrangente, implicando componentes de vários eixos de estruturação como afetividade, cognitivo, social, cultural, entre outros.
O processo de aprendizagem, bem como suas dificuldades, deixa de focalizar somente o aluno e o professor isoladamente e passa a ser visto como um processo de interações entre ambas as partes com inúmeras variações que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo. Sendo assim, é possível constatar que uma das formas de trabalho psicopedagógico é fazendo uso do lúdico, quer seja no diagnóstico, ou no tratamento. Pois bem, segundo Bossa (2007, p. 31) “nesse trabalho de ensinar a aprender, o psicopedagogo recorre a critérios diagnósticos no sentido de compreender a falha na aprendizagem [...]” este sendo um trabalho clínico com o seu objetivo de prevenção dos problemas de aprendizagem, assim no diagnóstico, a atividade lúdica é um rico instrumento de investigação clínica, pois permite ao sujeito expressar-se livremente, através da ação do ato de brincar, a criança constrói um espaço entre a realidade e a imaginação. Sendo assim é nas atividades lúdicas, que aprende a lidar com o mundo real, desenvolvendo suas potencialidades, incorporando valores, conceitos e conteúdos.
A utilização de brinquedos e jogos educativos como materiais pedagógicos, do ponto de vista da psicopedagogia, necessita da percepção do contexto em que se encontram inseridos, ou seja, estes instrumentos não são objetos comuns e sim objetos que trazem um saber em potencial que pode ser ou não ativado pelo aluno. Assim, são através do ato de brincar que observamos prazeres, frustrações, desejos, enfim, podemos trabalhar na construção do conhecimento. E ainda, o material pedagógico não deve ser visto como um objeto estático sempre igual para todas as crianças, pois, trata-se de um instrumento dinâmico que se altera de acordo com a imaginação do individuo, pois pode ocorrer uma reinterpretação do mundo, abrindo lugar para invenção e a produção de novos significados, saberes e práticas.
A psicopedagogia, no âmbito institucional tem sua atuação preventiva, na relação de problemas de aprendizagem, preocupando-se especialmente com a instituição educacional. Porto (2007) relata que a psicopedagogia institucional dedica-se a áreas relacionadas ao planejamento educacional e assessoramento pedagógico, tendo sua colaboração com os planos educacionais e sanitários no âmbito das organizações, e ainda auxilia no resgate da identidade da instituição com o saber mediando e resgatando o processo do ensino-aprendizagem. Portanto, inserida a esta realidade, cabe ao educador definir quais objetivos pretende alcançar, utilizando uma metodologia adequada, onde estará selecionando jogos, brincadeiras e brinquedos coerentes, buscando explorar ao máximo os conhecimentos da criança.
A psicopedagogia surgiu para responder os problemas decorrentes do processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento. A aprendizagem humana, portanto é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
No movimento de procurar entender estes aspectos é que o psicopedagogo constrói o seu trabalho, visando à diminuição dos problemas de aprendizagem e do fracasso escolar é nesse contexto de múltiplas interações que as atividades lúdicas são utilizadas no diagnóstico psicopedagógico, pois fazem com que as crianças revelem aspectos que não aparecem em situações mais formais do diagnóstico. Assim, a psicopedagogia visa buscar a melhoria das relações com a aprendizagem, bem como a melhoria da qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores. Fica, portanto, evidenciado a essencialidade do lúdico no trabalho psicopedagógico, tanto no aspecto clínico quanto no institucional. No próprio diagnóstico, este pode ser encarado como uma possibilidade de compreender o funcionamento dos processos cognitivos e afetivo-sociais.

4 CONCLUSÃO

No transcorrer deste artigo nos remeter a reflexões sobre a importância do brincar na educação infantil, tendo sido possível desvelar que a ludicidade é de extrema relevância para o desenvolvimento integral da criança e são elementos indispensáveis ao relacionamento com outras pessoas. Assim, a criança estabelece com os jogos e as brincadeiras uma relação natural e consegue extravasar suas tristezas e alegrias, angústias, entusiasmos, passividades e agressividades, é por meio da brincadeira que a criança envolve-se no jogo e partilha com o outro, na visão psicopedagógica isso auxilia na prevenção e diagnóstico de problemas de aprendizagem, pois a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem.
Além da interação, a brincadeira, o brinquedo e o jogo proporcionam mecanismo para desenvolver a memória, a linguagem, a atenção, a percepção, a criatividade e habilidade para melhor desenvolver a aprendizagem. Nessa perspectiva, as brincadeiras, os brinquedos e os jogos vêm contribuir significamente para o importante desenvolvimento das estruturas psicológicas e cognitivas da criança.
Vemos que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, mas principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído pelas relações inter-pessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação integral da criança. Portanto, a introdução de jogos e atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido a influencia que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-aprendizagem.
O lúdico enquanto recurso pedagógico na aprendizagem deve ser encarado de forma séria, competente e responsável, tanto para educadores em trabalhos escolares, quanto para psicopedagogos nas intervenções de problemas de aprendizagem. Usado de maneira correta, poderá oportunizar ao educador e ao educando, importantes momentos de aprendizagens em múltiplos aspectos. Na visão da psicopedagogia a importância na aprendizagem, o lúdico vem favorecendo de forma eficaz o pleno desenvolvimento das potencias criativas das crianças, cabendo ao profissional intervir de forma adequada, sem atrapalhar a criatividade da criança. Respeitando o desenvolvimento do processo lúdico, o psicopedagogo poderá desenvolver novas habilidades no repertório da aprendizagem e na prevenção e intervenção de futuros problemas de aprendizagem infantil.
Sendo assim, o brincar se destaca novamente para nos revelar que os esquemas que a criança utiliza para organizar as brincadeiras, os jogos, os brinquedos são os mesmos que ela utiliza para lidar como o conhecimento. Nessa perspectiva podemos concluir que é fundamental esse entendimento a fim de que o psicopedagogo possa identificar e intervir positivamente nas dificuldades da criança.

REFERÊNCIAS

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  • BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Trad. Ernani F. da Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
  • BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
  • BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil.Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.
  • CARVALHO, A. M. C. et al. (Org.). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.
  • CRAIDY, Carmem Maria, KAERCHER, Gladis E. (Org.). Educação infantil: pra que te quero?. Porto Alegre: Artmed, 2001.
  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio Escolar Século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003.
  • KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2002.
  • OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
  • OLIVEIRA, Vera Barros de (Org.). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
  • PORTO, Olívia. Psicopedagogia institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. 2. ed., Rio de Janeiro: Wak ed., 2007.
  • SANTOS, Santa Marli Pires dos. O lúdico na formação do educador. 5 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
  • VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes Editora LTDA, 1998.
  • VYGOTSKY, L. S; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.
  • ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdica, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. Pós-graduanda em Psicopedagogia Institucional pelo Instituto Paranaense de Ensino e Faculdades Maringá.

http://revista.fundacaoaprender.org.br/

AS ESPECIFICIDADES DA AÇÃO PEDAGÓGICA COM OS BEBÊS




AS ESPECIFICIDADES DA AÇÃO PEDAGÓGICA COM OS BEBÊS
Maria Carmem Barbosa
licabarbosa@uol.com.br
1. PALAVRAS INICIAIS
Em 1988, a Constituição Federal atendendo aos anseios da sociedade,
especialmente o movimento de mulheres: feministas, sindicalistas ou moradoras de
bairros, definiu que o Estado brasileiro deveria garantir a oferta de educação infantil -
pública, gratuita e de qualidade - para as crianças de 0 a 6 anos através do sistema
educacional. Essa proposição legal desencadeou, nas décadas seguintes, uma ampla
expansão dos estabelecimentos de educação infantil. Assim como os demais
documentos dele decorrentes, esse texto legal induziu os municípios a construírem
Centros e Escolas de Educação Infantil que atendessem as crianças de 0 a 6 anos, e com
isto ampliaram, significativamente, o acesso das crianças de 0 a 3 anos às instituições
educacionais públicas.
Nestes vinte anos, a visão constitucional de direito à vaga nas creches e préescolas
para os pais que trabalham vem sendo substituída pela ideia do direito que toda
a criança tem de frequentar uma escola de educação infantil. Isto evidencia uma
significativa mudança na compreensão dos direitos das crianças e também uma
importante aposta na contribuição que a escola de educação infantil pode oferecer às
crianças pequenas e às suas famílias.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI, 2009)
garantindo uma visão sistêmica evidencia que esta instituição deve cumprir suas
funções para garantir o bem-estar das crianças, das famílias e dos profissionais.
Função social - Acolher, para educar e cuidar, crianças entre 0 e 5 anos,
compartilhando com as famílias o processo de formação da criança pequena em sua
integralidade. As creches e pré-escolas cumprem importante papel na construção de
valores como a solidariedade e o respeito ao bem comum, o aprendizado do convívio
com as diferentes culturas, identidades e singularidades, preservando a autonomia de
cada um.
Função política - Possibilitar a igualdade de direitos para as mulheres que desejam
exercer o direito à maternidade e também contribuir para que meninos e meninas
usufruam, desde pequenos, os seus direitos sociais e políticos como a participação e a
criticidade, tendo em vista a sua formação na cidadania.
Função pedagógica - Ser um lugar privilegiado de convivência entre crianças e adultos
e ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas. Um espaço social que
valorize a sensibilidade, a criatividade, a ludicidade e a liberdade de expressão nas
diferentes manifestações artísticas e culturais.
Se, nos últimos anos, as vagas foram quantitativamente ampliadas ainda não é
possível afirmar que uma pedagogia específica para as crianças pequenas tenha sido
efetivada. Em grande parte das instituições, as singularidades das crianças de 0 a 3 anos,
especialmente os bebês, ficaram subsumidas às compreensões sobre o desenvolvimento
e a educação das crianças mais velhas. Afinal até hoje as legislações, os documentos, as
propostas pedagógicas e a bibliografia educacional privilegiaram a educação das
crianças maiores.
Isto é, apesar dos bebês e das crianças bem pequenas estarem presentes na
educação infantil, as propostas político-pedagógicas ainda mantêm invisíveis as suas
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particularidades e não têm dado atenção as especificidades da ação pedagógica nas
escolas de educação infantil.
Antes de iniciarmos a discussão da abordagem pedagógica vamos tentar definir
quem são os bebês. Sabemos que a idade biológica ou cronológica não pode ser a única
referência para definir até quando um ser humano pode ser denominado de bebê, pois as
experiências culturais afetam o crescimento e o desenvolvimento das crianças pequenas.
Em nossa cultura talvez possamos identificar a capacidade de andar, deslocando-se com
desenvoltura, e a de falar, ainda que apenas através de palavras e pequenas frases, como
sinais do final do período da vida que se define um bebê. Assim, neste texto, vamos
considerar como bebês as crianças do nascimento até 18 meses. Depois disto elas
podem ser chamadas de crianças pequenas ou pequenininhas.


2. AFINAL, QUEM SÃO OS BEBÊS?
Durante muitos anos os bebês foram descritos e definidos principalmente por
suas fragilidades, suas incapacidades e sua imaturidade. Porém, nos últimos tempos, as
pesquisas vêm demonstrando as inúmeras capacidades dos bebês. Temos cada vez um
maior conhecimento acerca da complexidade da sua herança genética, dos seus reflexos,
das suas competências sensoriais e, para além das suas capacidades orgânicas,
aprendemos que os bebês também são pessoas potentes no campo das relações sociais e
da cognição. Os bebês possuem um corpo onde afeto, intelecto e motricidade estão
profundamente conectados e é a forma particular como estes elementos se articulam que
vão definindo as singularidades de cada indivíduo ao longo de sua história. Cada bebê
possui um ritmo pessoal, uma forma de ser e de se comunicar.
Os bebês humanos quando chegam ao mundo necessitam um longo período de
atenção e cuidado para sobreviver. Um dos grandes compromissos dos adultos, que já
habitam neste mundo, é o de oferecer acolhimento para estes novos integrantes da
sociedade. Se, durante muitos anos, esta era uma tarefa apenas das famílias, hoje em
nossa sociedade, é necessário que seja uma tarefa compartilhada com outras pessoas ou
instituições. Cada vez mais, em nosso país, as mulheres trabalham fora de casa
motivadas pelo desejo de realização profissional, pela necessidade de independência
econômica ou então para contribuir com a renda familiar e o sustento dos filhos. As
novas diretrizes asseguram que todas as famílias brasileiras têm o direito de solicitar
vagas em creches e pré-escolas próximas às suas residências e sem requisito de seleção.
A ausência da família ampliada, isto é, de avós, tios, irmãos morando próximo e
ainda o envolvimento de muitos destes adultos no mundo do trabalho têm indicado a
escola de educação infantil como o parceiro privilegiado para ser o suporte dos pais e
das mães na tarefa de cuidar e educar as crianças pequenas. Esse papel de partilha não
se restringe ao apoio concreto durante o período de atendimento direto às crianças na
creche, mas também como referência para refletir sobre as ações de cuidado e a
educação das crianças pequenas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil definem as escolas
infantis como instituições abertas às famílias e à comunidade, como um local que
oferece a efetivação de um direito social que todas as famílias têm, e que possui como
objetivo garantir bem-estar para todos. Nesse sentido, esse estabelecimento educacional
tem como foco a criança e como opção pedagógica ofertar uma experiência de infância
intensa e qualificada. Torna-se, assim, um espaço de vida coletiva onde, diferentemente
do ambiente doméstico, os bebês convivam com um grupo de crianças pequenas. Nesse
lugar, junto com seus amigos e amigas, sob a coordenação de adultos especializados, as
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crianças têm a possibilidade de experimentar, aprender e construir relações afetivas. Do
ponto de vista político-pedagógico, podemos selecionar três aspectos das diretrizes
curriculares que são imprescindíveis na constituição de proposta(s) para a educação dos
bebês em espaços de vida coletiva.
O primeiro é a compreensão dos bebês como sujeitos da história e de direitos.
Direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à
brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. Quando as crianças são
tomadas como seres capazes elas se tornam protagonistas no projeto educacional. Essa é
uma mudança paradigmática na compreensão da educação dos bebês, pois se afirma o
compromisso com a oferta de um serviço educacional que promova, para todas as
crianças, a possibilidade de viver uma experiência de infância comprometida com a
aprendizagem gerada pela ludicidade, brincadeira, imaginação e fantasia. Nesse espaço,
os bebês aprendem observando, tocando, experimentando, narrando, perguntando, e
construindo ações e sentidos sobre a natureza e a sociedade, recriando, deste modo, a
cultura.
O segundo é a defesa de uma sociedade que reconheça, valorize e respeite a
diversidade social e cultural, e que procure construir a igualdade de oportunidades
educacionais entre as crianças oferecendo acesso a bens culturais selecionados com os
critérios da interculturalidade, da democracia, bem como afirmando a ruptura com
relações de dominação como: a etária, socioeconômica, de gênero, regional, linguística
e religiosa e combatendo o racismo.
E, por último, a valorização das relações interpessoais, a convivência das
crianças entre elas, mas também entre os adultos e as crianças, pois são estas relações
sociais que oferecem os elementos para a construção da sociabilidade e da constituição
subjetiva de cada uma das crianças. Esse é um importante papel da educação infantil
principalmente no que se refere às crianças bem pequenas, pois nesta faixa etária as
interações entre as pessoas têm expressiva relevância para a construção das identidades
pessoal e coletiva das crianças.


3. CAMINHOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE PEDAGOGIA(S)
ESPECÍFICA(S) PARA OS BEBÊS
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil apresentam,
e defendem, uma concepção de sociedade, de educação e de infância que será adotada
pelos sistemas educacionais na orientação das políticas públicas de educação infantil,
porém elas precisam também estar presentes como fundamentação da organização do
cotidiano das escolas infantis. Os serviços de educação infantil podem, a partir das
concepções presentes nas diretrizes, revisar e reelaborar seus planejamentos e avaliar
suas propostas pedagógicas e curriculares.
As diretrizes apresentam a escola de educação infantil como um espaço
educacional que tem o importante papel de compartilhar, de forma indissociável, a
educação e cuidado das crianças pequenas com suas famílias. Essa é uma característica
essencial deste tipo de instituição e a distingue de outros tipos de estabelecimentos e
níveis educacionais. Como vimos anteriormente, a escola de educação infantil vem,
cada vez mais, ocupando o lugar da família ampliada especialmente nos grandes centros
urbanos. Isto é, ela oferece aos pais e responsáveis pelos bebês parceiros que
complementam a atenção, o cuidado e a educação dos bebês e também um espaço para
o encontro e a interlocução com pessoas qualificadas para dialogar sobre a educação das
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crianças pequenas. As famílias não podem ser vistas apenas como usuárias de um
serviço, mas como colaboradoras, isto é, co-autoras do processo educacional, pois é
preciso sintonia quando se trata de educar uma criança pequena ou um bebê.
Educar bebês na vida coletiva da escola
As crianças ao nascerem se defrontam com um mundo que está em processo
contínuo de constituição. Para receber estas crianças, os adultos responsáveis
selecionam de seu patrimônio afetivo, social e cultural as práticas de cuidado e
educação que consideram mais adequadas para oferecer bem-estar a estes bebês e para
educá-los.
Porém esta não é uma tarefa simples mesmo os responsáveis, isto é os pais das
crianças, provêm de mundos sociais diversos e necessitam de muito diálogo para
estabelecer parâmetros para a educação de seus filhos. Cada família tem um modo de
alimentar, embalar, acariciar, brincar, tranquilizar ou higienizar as crianças. E estas
ações podem ser realizadas de diversas formas, afinal as diferentes culturas inventaram
múltiplos modos de criar suas crianças pequenas. E cada família tem um modo
específico para compreender o choro de uma criança, suas necessidades de alimentação
e de brincadeira e fazer suas escolhas tendo em vista as tradições familiares ou
concepções aprendidas com diferentes interlocutores.
A escola precisa estabelecer uma relação efetiva com as famílias, e a
comunidade local, para conhecer e considerar, de modo crítico e reflexivo, os saberes,
as crenças, os valores e a diversidade de práticas sociais e culturais que cada grupo
social tem para criar seus bebês. Um bebê ao ingressar numa turma de berçário vai
ampliar seu universo pessoal ao conectar-se com universos familiares bastante
diferenciados.
Obviamente a escola, apesar de seu relacionamento com a comunidade e com as
famílias, terá estratégias educativas diferenciadas, pois ela precisa atender as crianças na
perspectiva da vida coletiva e não do atendimento individual como acontece nos lares.
A escola, com a participação dos pais, organiza em seu projeto político e pedagógico,
um modo de conceber a educação das crianças pequenas e oferecer práticas de vida
coletiva, sem se descuidar das singularidades de cada família, de cada bebê e de cada
profissional. Na escola de educação infantil, espaço público de educação coletiva, as
práticas de cuidado e educação de bebês tornam-se um importante campo de estudos,
debates e tomada de decisões que necessitam estar contemplados nos projetos
pedagógicos.
O Projeto Político-Pedagógico é o resultado de um trabalho conjunto entre
profissionais e famílias, um trabalho de reflexão, debate e confronto. Nele, a partir de
princípios legais, um grupo de gestores, pais, funcionários e professores selecionam e
explicitam os princípios educacionais que auxiliam aos pais e educadores a pensar sobre
o seu agir, isto é, a constituir referências e a compartilhar ações.
Um currículo para os bebês
Para os bebês, a ida para a creche significa a ampliação dos contatos com o
mundo, para os adultos, responsáveis pela educação das crianças na creche, significa
selecionar, refletir e organizar a vida na escola com práticas sociais que evidenciem os
modos como os professores compreendem o patrimônio cultural, artístico, ambiental,
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científico e tecnológico e os modos como traduzem, no exercício da docência, as suas
propostas pedagógicas.
As práticas sociais que as famílias e a escola ensinam para os bebês e as crianças
bem pequenas são as primeiras aprendizagens das crianças e constituem o repertório
inicial sobre o qual será continuamente constituída a identidade pessoal e as novas
aprendizagens das crianças. Por exemplo, os bebês aprendem a se vestir sendo
agasalhados pelos adultos, aos poucos, os pequenos iniciam um processo de
participação na ação de vestir-se e, finalmente, eles vão aprendendo a vestir sozinho
suas roupas, até mesmo a escolher e demonstrar suas preferências. Esses conhecimentos
sociais e culturais apesar de pouco valorizados nas escolas de educação infantil são
extremamente importantes para a constituição das crianças, dos seus hábitos, dos modos
de proceder, das suas relações e das construções sociocognitivas.
Essas práticas sociais são estruturadas através de linguagens simbólicas com
conteúdos culturais. Assim, as propostas pedagógicas dirigidas aos bebês devem ter
como objetivo garantir às crianças acesso aos processos de apropriação, renovação e
articulação de diferentes linguagens. É importante ter em vista que o currículo é
vivenciado pelas crianças pequenas não apenas através de propostas de atividades
dirigidas, mas principalmente através da imersão em experiências com pessoas e
objetos, constituindo uma história, uma narrativa de vida, bem como na interação com
diferentes linguagens, em situações contextualizadas, adquirindo, assim, o progressivo
domínio das linguagens gestuais, verbais, plásticas, dramáticas, musicais e outras e suas
formas específicas de expressão, de comunicação, de produção humana.
As concepções contemporâneas sobre os bebês, a infância, a aprendizagem e a
educação encaminham para a compreensão de um currículo que vislumbre o
desenvolvimento integral de crianças nas suas dimensões: expressivo-motora, afetiva,
cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural compreendendo as crianças em sua
multiplicidade e indivisibilidade.
Porém, quando pensamos nas crianças bem pequenas, isto é, nos bebês temos
dúvidas sobre como propor este currículo. Ora, não será certamente através de aulas, de
exposições verbais, mas, como vimos anteriormente, a partir da criação de uma vida
cotidiana com práticas sociais que possibilitem alargar horizontes, ampliar vivências em
linguagens, para que os bebês experienciem seus saberes. Serão exatamente esses
primeiros saberes, essas experiências vividas principalmente com o corpo, através das
brincadeiras, na relação com os outros – adultos e crianças – que irão constituir as bases
sobre as quais as crianças, mais tarde, irão sistematizar os conhecimentos que fazem
parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico.


4. ORGANIZAR UM PERCURSO EDUCATIVO PARA OS BEBÊS
Como vimos anteriormente, uma especificidade da pedagogia realizada junto aos
bebês é a da centralidade das brincadeiras e das relações sociais. Portanto esta é uma
pedagogia que torna imprescindível possibilitar encontros e visibilizar os modos e as
diversas formas de relacionamento que se estabelecem entre as pessoas. Educar bebês
não significa apenas a constituição e a aplicação de um projeto pedagógico objetivo,
mas implica em colocar-se, física e emocionalmente, à disposição das crianças e isto
exige dos adultos comprometimento e responsabilidade.
A responsabilidade, a competência, a formação dos gestores, professores e
demais profissionais precisa também estar vinculada à delicadeza, ternura, empatia e
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capacidade comunicativa. Os envolvidos na educação de bebês precisam protegê-los de
qualquer forma de violência – física ou simbólica – ou de negligência no interior da
instituição. Sempre que algum tipo de discriminação ou violência for praticada contra
um bebê é preciso realizar o encaminhamentos das violações para as instâncias
competentes.
A tarefa dessa pedagogia da pequeníssima infância é articular dois campos
teóricos: o do cuidado e o da educação, procurando que cada ato pedagógico, cada
palavra proferida tenha significado, tanto no contexto do cuidado – como ato de atenção
aquilo que temos de humano e singular – como de educação, processo de inserção dos
seres humanos, de forma crítica, no mundo já existente.
Uma pedagogia de encontros e relações
Numa sala de berçário muitas relações se estabelecem. Relações entre as
crianças e entre os adultos e as crianças. Porém as relações que se estabelecem entre os
diferentes adultos pais, professores e demais profissionais não pode ser descuidada.
Apesar de realizarem atividades diferenciadas, professores, gestores e os
diversos profissionais da escola, todos trabalham tendo um objetivo comum: oferecer
para as crianças e para as famílias uma escola de qualidade. Muitas vezes as
dificuldades nas relações entre os adultos acabam afetando o trabalho pedagógico e
também as próprias crianças. É indispensável que estes fatos sejam observados e que se
criem na escola momentos de formação para partilha das dificuldades, a comunicação, a
resolução de conflitos e a felicitação pelos êxitos.
As relações entre professores e crianças
Os adultos são responsáveis pela educação dos bebês, mas para compreendê-los
é preciso estar com eles, observar, “escutar as suas vozes”, acompanhar os seus corpos.
O professor acolhe, sustenta e desafia as crianças para que elas participem de um
percurso de vida compartilhado. Continuamente, o professor precisa observar e realizar
intervenções, avaliar, e adequar sua proposta às necessidades, desejos e potencialidades
do grupo de crianças e de cada uma delas em particular. A profissão de professora na
creche não é como muitos acreditam apenas a continuidade dos fazeres “maternos”, mas
uma construção de profissionalização que exige além de uma competência teórica,
metodológica e relacional.
As relações entre as crianças
As crianças na creche têm a experiência de viver cotidianamente em uma
coletividade com meninos e meninas de idades diversas. Os bebês desde muito cedo
procuram as outras crianças com olhares, esboçando sorrisos e sons, tentando através do
corpo tocar no colega. A ação pedagógica na turma de bebês deve favorecer o encontro
entre eles em diferentes espaços e momentos do dia. A professora ao observar precisa
estar atenta aos movimentos relacionais do grupo e favorecer o desenvolvimentos
corporal, afetivo e cognitivo dos bebês.
As relações com as famílias
A escola, através dos gestores e professores, tem o compromisso de construir
relações com as famílias. As relações podem ser propiciadas através de distintas formas
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de encontro, mais ou menos formais, como reuniões, entrevistas, festas... Isto é,
algumas situações individualizadas, e outras coletivas que favoreçam a escuta e as
trocas. Assim as famílias irão sentir-se valorizadas e afirmadas na sua função parental,
de responsáveis pela educação de seus filhos. A pluralidade de encontros favorece a
construção de laços, a confiança e a troca. Mesmo antes do ingresso dos bebês na
creche, é preciso que as famílias conheçam a escola e tenham tido a oportunidade de
compreender e discutir o projeto pedagógico. Uma relação de confiança dos pais ou
responsáveis na escola facilita estabelecer vínculos seguros dos bebês com a escola. A
interação da escola com as famílias é tão importante que vem sendo considerada como
um dos critérios fundamentais na avaliação de qualidade das creches.
Uma pedagogia para o dia a dia da sala de bebês
Para organizar um percurso de aprendizagem e desenvolvimento para os bebês é
preciso que se tenha um Projeto Político-pedagógico que defina objetivos de longo
prazo, pois a formação humana é algo que necessita de tempo. Além disso, cabe à
escola saber o que cada bebê, e o grupo de crianças pequenas precisa para, assim,
construir estratégias que possam oferecer às crianças as ferramentas necessárias para
compreender e apresentar-se ao mundo.
A explicitação nos objetivos das concepções educacionais e das estratégias
educacionais com as crianças pequenas é importante, pois possibilita aos educadores
compartilhar - tanto com seus colegas, no interior da escola, como com os pais e a
comunidade - seus princípios educativos. Ter concepções compartilhadas significa
argumentar, constituir coerência, estabelecer continuidade e estabilidade tanto
horizontal, na escola e na família, como vertical, entre as turmas ou níveis de ensino.
Tendo claro e compartilhado concepções e objetivos pode-se, então, começar a
constituir o processo educacional. Elaborar uma intervenção pedagógica numa turma de
bebês significa realizar ações de dois tipos: (a) a construção de um contexto e (b) a
organização de um percurso de vida.
Construir um contexto
Uma especificidade da pedagogia com os bebês é a sutileza, a forma indireta e
discreta com que se realiza. A primeira intervenção é no modo de constituir um
contexto, contexto que se bem organizado nos propiciará conhecê-las e interagir com
elas. Se inicialmente a professora organiza o ambiente, a presença das crianças, as
conversas com as famílias, as interações do grupo podem ir transformando esses
contextos. Se no início ele é mais material: móveis, brinquedos, decorações, pouco a
pouco ele se torna mais social, pois o aspecto social não existe sem o material e viceversa.
O contexto, como foi visto acima, se estrutura a partir de algumas variáveis
como: a organização do ambiente, os usos do tempo, a seleção e a oferta de materiais, a
seleção e a proposta de atividades e a organização da jornada cotidiana.
Organização do ambiente
A pesquisa sobre o espaço físico da escola nos ensina que os ambientes possuem
uma linguagem silenciosa, porém potente. Ele nos ensina como proceder, como olhar,
como participar. Uma sala limpa, organizada, iluminada, com acessibilidade aos
materiais, objetos e brinquedos é muito diferente de uma sala com muitos móveis, com
objetos e brinquedos fora do alcance das crianças e escura ou abafada. Cada um destes
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ambientes nos apresenta uma concepção de infância, de educação e cuidado. Os
ambientes são a materialização de um projeto educacional e cultural.
Alguns pesquisadores observaram que quando os espaços nas escolas estão bem
planejados o professor deixa de ser o único foco de atenção das crianças e o próprio
ambiente chama as crianças pequenas para diferentes atividades. Isto é, uma das tarefas
principais de um professor de bebês é criar um ambiente onde as crianças possam viver,
brincar e serem acompanhadas em suas aprendizagens individualmente e também em
pequenos grupos.
Os ambientes precisam ser coerentes com as necessidades das crianças,
proporcionando situações de desafio, mas também oferecendo segurança. Os ambientes,
quando bem pensados e propostos, incitam as crianças a explorar, a serem curiosas, a
procurar os colegas e os brinquedos, isto é, elas podem escolher de modo autônomo.
Ao organizar a sala para os bebês pequenos, é importante arranjar pequenos
espaços, confortáveis, com espelho, tapetes, rolinhos, almofadas, que possam auxiliar
na sustentação das crianças e favorecer seus movimentos. Tal espaço é organizado para
que as crianças interajam com outras crianças, brinquem com os objetos e brinquedos
podendo, assim, vivenciar diferentes experiências.
Quando as crianças ficam muitas horas num espaço de vida coletiva, é
interessante que se institua um lugar para colocar as coisas que vem de casa como, por
exemplo, as fotos da criança e da família, os brinquedos, e outros objetos que criam um
“oásis” de singularidade na vida e no espaço coletivo.
Como grande parte das ações das crianças pequenas está relacionada com o
ambiente físico e humano onde ela está situada, este lugar deve apresentar estabilidade,
sendo flexível e evidenciando quem são os seus usuários, seus nomes e marcas, seus
interesses atuais e seus processos de crescimento. Todo o material que entra em uma
sala para bebês deve ser avaliado em seu estado físico, nas possibilidades cognitivas,
motoras e sensoriais que oferece bem como na sua qualidade cultural. Constitui
compromisso da escola oferecer brinquedos e equipamentos que respeitem as
características ambientais e socioculturais da comunidade.
A sala pode estar organizada em microambientes temáticos com alguns materiais
mais estruturados, mas também com material não estruturado. Nesses pequenos
espaços, tapetes, colchonetes, cantos, tocas, as crianças exploram os objetos, constroem
cenários e estruturam brincadeiras coletivas e individuais. Também é preciso que a sala
tenha lugares como armários, caixas, cestos, onde possam ser guardados os materiais.
Os bebês na creche, além da sala, têm direito aos espaços de uso coletivo como
as bibliotecas, sala de música, o pátio e outros. O parquinho da escola é um espaço que
deve ser pensado e organizado na medida das crianças. Além disso, as crianças
pequenas necessitam de contato diário com a luz do sol, o ar fresco e com a observação
e interação com a natureza. Acima de tudo, o espaço que as crianças vivem tanto tempo
precisa ser prazeroso, bonito, relaxante, alegre.
Os usos do tempo
Talvez o tempo seja um importante elemento para a definição da especificidade
da educação dos bebês. As crianças pequenas precisam de tempo, de tempos longos
para brincar, para comer, para dormir. Tempos que sejam significativos. As crianças
pequenas, especialmente os bebês, têm a árdua tarefa de compreender e significar o
mundo e precisam de tempo para interagir, para observar, para usufruir e para criar.
Muitas vezes as pessoas pensam que os bebês têm pouca capacidade de atenção, de
envolvimento, de curiosidade e por este motivo não oferecem propostas de atividades
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para as crianças, ou, ao contrário trocam a cada momento as propostas. Ora, quando
temos efetivamente contato com os bebês e os observamos brincando sozinhos ou com
outros bebês verificamos que eles ficam intrigados e envolvidos com uma tarefa e
podem permanecer assim por muito tempo. A pressa, em geral é nossa, dos adultos.
Ter tempo para brincar, fazer a mesma torre muitas vezes, derrubar, reconstruir,
derrubar novamente, permite aos bebês sedimentar as suas experiências. A organização
de uma jornada na escola precisa contemplar as necessidades das crianças sejam elas de
ordem biológica, emocional, cognitiva, social e também oferecer tempos de
individualização e de socialização. Nossa sociedade, em nome da produtividade, tem
acelerado a vida: cada vez mais cedo e cada vez mais rápido. As crianças chegam às
escolas com organizações de vida diferenciadas e, aos poucos, vão sincronizando com o
grupo, isto é, a professora junto com as crianças vai construindo uma vida com tempos
compartilhados. Porém é preciso cuidado para que este processo não seja invasivo e
tenha atenção às necessidades, ritmos e escolhas individuais.
Construindo uma rotina
As rotinas, ou a jornada diária da sala de bebês, são aquelas experiências que se
realizam ao longo do dia. Essa repetição oferece para os bebês certo domínio sobre o
mundo em que vive e oferece a eles segurança, isto é, a possibilidade de antecipar
aquilo que vai acontecer. A recorrência dos eventos faz com que se possa construir um
eixo de história e memória, em que se construa uma identidade social, de grupo. Afinal,
todos os dias, no mesmo lugar, juntamente com as mesmas pessoas serão realizadas
certas atividades e repetidos alguns rituais. É neste lugar que as crianças vão se
encontrar com outras crianças, aprender a se relacionar, a conviver, a cooperar,
discordar. É neste espaço social que irão, com seus corpos, perceber os odores, escutar
as vozes, olhar, observar, tocar, pois as crianças têm grande capacidade de compreender
a realidade através dos sentidos.
Com os bebês é preciso ter muita atenção aos momentos de vida cotidiana, pois
são nestes momentos que as crianças fazem as primeiras aprendizagens, aprendem a
cuidar de si e a se relacionar com os outros e o mundo. Assim, fazendo as tarefas
cotidianas com o apoio de um outro, em geral adulto, mas também outras crianças, que
os bebês aprendem a viver a vida e vão construindo sua independência.
Geralmente as salas de bebês organizam seu tempo em momentos que iniciam
com o acolhimento, passam pelas refeições, pela brincadeira, por atividades de higiene,
pelas práticas de repouso, por uma ida ao pátio, isto é, pela construção de contextos
educativos que possibilitam aos meninos e às meninas adquirir conhecimentos e
habilidades e a realizar interações que instituem e ampliam seu repertório motor,
cognitivo, emocional, social e cognitivo. Ter uma jornada diária pensada “na medida do
grupo e de cada criança” significa também estar aberta ao inesperado, àquilo que “sem
aviso” emerge no cotidiano e propicia as reavaliações de percurso, oferecendo novas
opções aos bebês.
Então, vamos ao percurso
Se temos um ambiente acolhedor e desafiante, se já pensamos em modos cotidianos de
organizar o tempo através de rotinas, se selecionamos os recursos e materiais
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necessários para o trabalho pedagógico, é hora de pensar como encaminhar o trabalho
com as crianças afinal, as bases do trabalho pedagógico estão postas.
A partir dos objetivos presentes no PPP da escola e no planejamento anual da
turma, o professor começa a organizar alguns momentos do ano que são recorrentes: o
acolhimento dos bebês e suas famílias na creche, o convite aos percursos, os desafios e
a construção de processos e a análise das experiências vividas. Para realizar este
percurso o professor de berçário possui alguns instrumentos: a observação, o
planejamento, as ações e experiências e o acompanhamento e a avaliação.
A observação
Para poder compreender e comunicar-se com um bebê pequeno é preciso
observar. É através de diferentes técnicas de observação, dirigida, natural, com o uso de
instrumentos como máquina fotográfica ou de filmagem, que nos aproximamos do
modo como às crianças se relacionam com o mundo e com as outras crianças
produzindo as suas vidas. Como não utilizam a palavra falada, é geralmente através da
observação crítica, atenta e contínua das atividades, das brincadeiras e interações das
crianças no cotidiano que o professor acessa aos sentimentos e questionamentos das
crianças. As observações precisam ser registradas para serem compartilhadas e
analisadas, é imprescindível uma caderno ou pasta para a escrita das observações. Além
do conhecimento das singularidades de todas as crianças, é através da observação que o
professor pode construir projetos de trabalho com as crianças.
O acolhimento
A chegada de um bebê em uma família cria um momento de grande intensidade
emocional e causa profundas transformações em todos os integrantes da mesma. A
especificidade desse momento deve ser considerada quando se recebe um novo bebê na
creche, afinal não é apenas uma criança que a escola de educação infantil irá acolher,
mas toda uma família, que está vivendo um processo de transformação.
Também na escola, a chegada de um novo bebê causa nas crianças e nos adultos
uma nova situação, uma reconfiguração do grupo. Assim, acolher uma criança na creche
exige, dos diferentes profissionais, atenção, competência e sensibilidade nas relações
com os bebês e suas famílias. Para isto, é preciso em primeiro lugar, respeitar e
valorizar famílias em suas diferentes formas de estruturação e organização, e abrir
diferentes canais para a participação cotidiana das famílias nas escolas de educação
infantil.
A inserção das crianças na escola exige que os professores estabeleçam um
contato pessoal com cada família. Para as crianças, especialmente os bebês, os
primeiros dias de frequência à creche é uma fase de grande mudança e elas precisam de
um ambiente que lhe ofereça segurança emocional, acolhimento, atenção. As crianças
logo reconhecem a confiança que seus pais depositam na escola e nas professoras,
assim, o trabalho de inserção das crianças na creche passa, necessariamente, pela
relação de confiança entre pais e professores.
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O professor e a escola têm o compromisso de criar estratégias adequadas ao
momento de transição da casa para a instituição de Educação Infantil vivido pela
criança, empenhando-se:
• Na construção de um ambiente estável de colaboração e um clima de confiança e
tanto para os bebês como para as suas famílias;
• No desenvolvimento das capacidades pessoais do professor que inicia com o
estabelecimento de uma relação com a criança através do olhar, do sorriso, da oferta de
um objeto, e aos poucos constrói a confiança do bebê nesta nova pessoa e neste novo
ambiente;
• Realizar reuniões para apresentar a proposta, as dependências da escola e as
pessoas que nela trabalham;
• Entrevista com os responsáveis para conhecer bebê e suas famílias, seus hábitos
e os valores;
• Combinar o processo de inserção da criança na creche: período de tempo, tempo
diário de permanência, presença dos familiares, etc;
Após o momento inicial de acolhimento, as crianças e os adultos, constroem um ritmo
de trabalho a partir de ações e experiências. Os desafios, as proposições, as
problematizações vão se estruturando ao longo do processo. Elas iniciam com o
conhecimento de todos os bebês, das situações que parecem mais significativas e, a
partir de então, exigem compromisso do professor e imaginação pedagógica para
continuar com um percurso.
Porém, os percursos exigem mudanças nas trajetórias quando, ao procurar
escutar aquilo que nos dizem os bebês através das suas múltiplas linguagens, avaliamos
que outras ações são mais importantes que aquelas planejadas. Construir, a partir
daquilo que as crianças evidenciam, um percurso com coerência e com uma história que
pode ser registrada através de fotos e, continuamente, contada às crianças para que elas
se reconheçam como sujeitos históricos, que fazem parte de um coletivo, e que deixam
marcas e constroem narrativas, é um importante papel da educação nos primeiros anos.


.
DESAFIOS PARA CONSTRUIR UM DIA A DIA COM OS BEBÊS
O cotidiano das crianças na sala de bebês vai sendo construído através de atos de
cuidado e educação dos docentes. Todo o dia inicia-se o encontro dos bebês e adultos
com o acolhimento, que pode ser feito de diferentes formas. Em seguida, a professora
pode criar uma situação, pautada nas suas observações, que faça com que os bebês
encontrem algo (ou alguém) agradável, interessante e instigante.
Uma das características de uma turma de bebês é que mesmo quando a
professora tem uma proposta muito interessante os bebês geralmente não participam
dela como grupo completo, ou ao menos não ficam presentes em sua totalidade. Sempre
há um bebê que está com sono, outro que precisa ser trocado. Assim, aquilo que
denominamos trabalho diversificado é uma constante na turma de bebês.
Nestes momentos de encontro, a professora pode promover o relacionamento e a
interação das crianças com diferentes materialidades e com manifestações culturais
como a música trazendo canções cantadas pela professora ou através de CDs, caixas
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com instrumentos musicais; propor para os bebês acompanhar a música com o balanço
do corpo, o que não deixa de ser uma introdução à dança que deve ser sempre lembrada
e estimulada.
Mesmo os bebês sendo pequenos, temos a possibilidades de oferecer massas e
tintas adequadas para fazer experiências plásticas assim como água, barro e gelo. Além
disso, pode-se promover brincadeiras com blocos, jogos de descoberta, construções,
encaixes, “faz de conta”, brincadeiras com bolas, arcos, almofadas para criar situações
de desafios motor. Com a linguagem também se faz muitas brincadeiras: onomatopéias,
versos, trava-língua, canções, brincadeiras como: cadê o toicinho, serra-serra serrador,
que envolvem movimento junto com uma canção são extremamente bem-vindas.
Nas salas devem ser privilegiados os brinquedos e materiais naturais como, por
exemplo, panos, pecinhas de madeira, etc. A brincadeira do “cesto dos tesouros”,
elaborada por Elinor Goldschimied, é muito indicada para os bebês, pois possibilita a
exploração, a composição e a estruturação de uma brincadeira individual e também
coletiva, além de ampliar a confiança das crianças.
Grande parte das intervenções da professora ocorrerá no sentido de facilitar as
relações sociais, transmitir as possibilidades das brincadeiras em sua multiplicidade e
riqueza. A linguagem oral das crianças e sua capacidade de locomoção também serão
pontos que regularmente devem ser trabalhados. Igualmente fazem parte da sala dos
bebês os livros de imagens, de poesias, de histórias, podendo a escola até fazer uma
pequena “bebeteca” onde a criança encontre narrativas e interação com a linguagem oral
e convívio com diferentes suportes e gêneros.
Os bebês, mesmo pequenos, podem ir ao teatro quando o espetáculo tiver sido
pensado para eles. Além de fruírem como espectadores, os bebês também iniciam seus
jogos dramáticos na escola de educação infantil. Nesta faixa etária, o uso dos vídeos ou
da TV devem ser feitos com parcimônia. As crianças convivem com as televisões em
suas casas, porém as experiências corporais, de relacionamento, de linguagem são as
mais significativas nesta faixa etária.
Sempre que possível é importante, ao selecionar os materiais, pensar numa
proposta de trabalho com as crianças que leve em consideração o critério da diversidade
social e cultural como instrumentos musicais, músicas de diferentes culturas, livros com
imagens de crianças e bonecas de diferentes etnias, comidas (todas as culturas tem
alimentos específicos para seus bebês) de diferentes tradições culturais que irão, pouco
a pouco, estarem presentes no cotidiano do berçário.
Aos momentos de atividades propostas, com acompanhamento, para um grupo
maior de crianças, seguem inúmeros momentos de contato individual ou em pequenos
grupos. As crianças oferecem pistas, as quais os professores pegam e devolvem com
novas elaborações, criando continuidades, rupturas, aprofundamentos. Nesses
momentos tradicionalmente vistos apenas como educativos é preciso um profundo olhar
de cuidado do professor, cuidado na seleção dos materiais, cuidado para estar atento às
expressões das crianças, cuidado para dar o tempo adequado para o desenvolvimento da
atividade.
Como as crianças desta idade ainda têm necessidades corporais muito constantes
este, provavelmente, será o momento de alimentar-se através de um pequeno lanche. A
alimentação é uma prática cultural repleta de simbolismo. A escolha dos alimentos, a
forma como se organiza as cadeiras, o lugar onde se come – se sala ou refeitório – os
instrumentos que se usa para comer, tudo isto diz respeito à formação cultural e social.
Também o modo como se inicia e finaliza a alimentação fazem parte de um ritual, um
ritual que não é igual ao doméstico e que na escola pode ser construído com a
participação das crianças e transmitido aos bebês.
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Nos momentos de alimentação, as crianças ficam envolvidas com a ação dos
adultos, porém algumas vezes, conforme a configuração dos móveis pode ser um
momento de grande socialização e vida coletiva. Em geral as crianças participam com
muita alegria deste momento que é muito mais do que uma necessidade fisiológica. A
dependência das crianças de uma alimentação que é servida para elas, vai, pouco a
pouco, sendo substituída por situações de alimentação com elas. Por exemplo, pode-se
dar uma fruta amassada, mas também dar um pedaço grande, para o bebê explorar,
colocar na boca, comer, para finalmente tornar-se uma ação autônoma das crianças.
Aprender a alimentar-se é uma importante aprendizagem para a primeira
infância, pois envolve aspectos sociais, de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e
bem-estar; motores: manuseio de talheres, movimento da boca, ingestão e fonoarticulatório.
Nessa situação podemos novamente compreender a inseparabilidade das
ações de educação e cuidado.
Após a alimentação, a higiene será uma necessidade das crianças. Preparar um
ambiente tranquilo, de intimidade e poder ofertar tempo e disponibilidade de atenção
individual são características de um bom momento educativo na higienização. Deixar as
crianças confortáveis, limpas com um contato especial propicia grande satisfação.
Em seguida vem o sono, que pode ser precedido por uma canção, uma história,
uma poesia, ou seja, também se pode criar um ritual de sono na escola. Este não é um
momento fácil para todas as crianças, algumas resistem a passar da vigília para o sono.
Assim tanto o momento de auxiliar a dormir como o momento de acordar deve ser visto
com delicadeza e reflexão, isto é, cuidando e educando os bebês.
Em idades posteriores podemos denominar este momento de repouso, pois não
deve haver a obrigatoriedade de dormir, porém nesta faixa etária o sono segue, com
frequência, aos momentos de alimentação e evacuação. A diferença é que os bebês bem
pequenos não têm, muitas vezes, grande sincronia uns com os outros, e quando alguns
dormem outros ficam acordados possibilitando intervenções pontuais de seus
educadores. Estes podem lhes oferecer propostas onde as crianças aprendam
observando, tocando, experimentando, e construindo ações e sentidos sobre a natureza e
a sociedade, produzindo deste modo cultura.
Todos os dias os bebês precisam ir ao pátio, pois este é um procedimento
saudável e também uma importante situação de integração com as demais pessoas da
escola, especialmente porque promove interações entre crianças de mesma idade e
crianças de diferentes idades. É importante que todos os dias os bebês vivenciem
situações que incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o
questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico
e social, ao tempo e à natureza.
Ao longo do dia estes momentos se sucedem. Na medida em que as crianças vão
ficando mais velhas, diminui a centralidade das situações de alimentação, repouso e
higiene. Assim como todo o dia o acolhimento aos bebês e aos pais deve ser valorizado,
a saída é o momento do reencontro com os familiares, momento de emoção, de troca de
informações – orais e escritas. Muitas vezes estes momentos são tensos, pois as crianças
querem permanecer, ou choram ao ver os pais. É a confiança, continuamente
reassegurada, que permite viver as variadas situações emocionais da entrada e da saída
com tranquilidade.


O acompanhamento/avaliação
Ao longo do processo, a professora deverá constituir estratégias - através de
distintos instrumentos como fotos, desenhos - para acompanhar tanto o seu trabalho
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pedagógico como para coletar dados sobre as crianças no que se refere tanto à vida do
grupo como aos processos vividos por todas as crianças individualmente. Os dados
individuais, recolhidos, refletidos não devem servir para selecionar ou estigmatizar as
crianças, mas para poder construir perspectivas futuras de intervenção pedagógica.
Os registros, após sua organização, tornam–se um documento para contar para as
crianças e suas famílias seus os percursos de aprendizagem individuais e coletivos. Isto
significa garantir para as crianças uma memória, contada narrativa e descritivamente,
sobre sua vida. Tais registros também servem para construir a memória da instituição e
para refletir sobre o projeto pedagógico, constituindo uma documentação específica que
permite às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de
desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil, além de, com isto,
valorizar o papel da creche e dos profissionais da educação infantil. Avaliar, refletir
criticamente sobre os dados coletados e organizados, é um fator indispensável para
qualificar o trabalho.


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2014 ..."SOU CRIANÇA ...SOU ARTEIRO ...SOU ARTISTA"...

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