Um dos livros que mais gostei de ler durante toda a minha formação foi Educação Infantil, pra que te quero?, com organização de Carmem Craidy e Gládis E. Kaercher.
Para quem está iniciando os estudos acerca da Educação Infantil, é professor e busca reflexões sobre a metodologia dos conteúdos, e ainda é pai ou mãe e quer conhecer as etapas do desenvolvimento do seu filho, fica a sugestão desse guia completo que abre muitas portas do saber e da visão que temos dessa fase tão única que é a infância.
A fase do desenvolvimento em questão é a mais importante da vida do ser humano, pois é dos 0 aos 7 anos que os indivíduos formam a sua concepção de mundo e internalizam conceitos. Para tanto, é importante que pais e mestres saibam muito bem desse desenvolvimento e tenham claros seus objetivos, pois toda a informação dada à criança será armazenada e a partir dela estabelecerá suas relações.
O livro está dividido em 13 capítulos escrito por especialistas da área que buscam um diálogo com o leitor. Abordam desde os propósitos da escola infantil ao longo da história, as novas definições da legislação segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os estágios do desenvolvimento infantil segundo Piaget, Vygotsky e Wallon, e reflexões sobre literatura, música, ciências, artes, ludicidade, aquisição da linguagem falada e escrita, organização do tempo e do espaço durante as aulas. Também há debate sobre temas de saúde, incluindo até o calendário de vacinas e uma breve abordagem sobre as doenças mais comuns da infância. Um prato cheio!
Educação Infantil: Pra que te quero?
Atualmente, é muito comum que os filhos fiquem em pré-escolas durante o horário de trabalho dos pais. Algumas crianças, como já acompanhei, permanecem ali durante as 12 horas de funcionamento. O que a escola deve proporcionar nesse tempo? Segundo os autores, é dever da escola educar e cuidar, ou seja, desenvolver o cognitivo e a psicomotricidade, sem fazer desse ensino um processo mecânico, sem afetividade, sem um olhar atento. Educar cuidando e cuidar educando. A escola não é aquele espaço onde a criança apenas aguarda o retorno os pais — ela deve visar o desenvolvimento global do aluno. Sendo assim, é necessário compreender cada estágio de desenvolvimento das crianças, traçar objetivos e auxiliar para que cada um alcance o seu, ao seu tempo. Cuidar é ter a sensibilidade de olhar para cada dificuldade, para cada sintoma de febre, fome, e outras tantas coisas comuns do cotidiano escolar. Educar e Cuidar são atos que devem respeitar a individualidade do aluno, reconhecendo-o como sujeito de direitos, como prevê a Lei.
Reflexões sobre o Cuidar na Educação Infantil
Relativas ao cotidiano escolar, a adaptação ao novo ambiente, relacionamento escola/pais, alimentação, uso de chupetas, choro, a tirada das fraldas, fazem parte do cuidar, do estar com olhar atento. Precisamos, enquanto responsáveis pelos pequenos, lembrar que cada um tem o seu ritmo de desenvolvimento, e que serão diferentes reações para as mesmas situações, caso contrário, podem resultar em experiências negativas que são desnecessárias, não é mesmo? O professor que trabalha com essa faixa etária precisa conhecer e estar atento as fases do desenvolvimento, pois as crianças crescem e evoluem muito rápido. São os 7 anos da vida em que mais desenvolvemos. Por isso faz-se necessária a compreensão dos estágios de desenvolvimento segundo Piaget, Vygotsky e Wallon. Estejamos preparados para ser responsáveis por crianças, no caso de doenças e acidentes comuns nessa faixa etária. Nesses momentos, o conhecimento a piori torna-se fundamental, principalmente com relação a prevenção. Ainda, ter claro conceitos de ambiente, higiene, sono e uso de medicações (o livro contém até um calendário de vacinas!). Temos uma bagagem cultural que nos diz, inconscientemente, que menino age de uma maneira e que meninas agem de outra, que boneca é brinquedo de menina e carrinhos, de meninos. Muitos professores não se dão conta quando chamam atenção das crianças por seus comportamentos, que são naturais e espontâneos, já rotulando e descarregando uma série de pré-conceitos culturais nos nossos pequenos. Meninos que brincam com bonecas podem ser grandes pais no futuro, ao invés de homossexuais, como alguns julgam. Vamos deixar nossas crianças livres desse tipo de pensamento e livres também para poderem fazer as suas escolhas.
Reflexões sobre o Educar na Educação Infantil
O livro traz uma série de dicas de atividades para organizar melhor o tempo e o espaço na educação infantil. Conforme cada faixa etária, as atividades são diferentes e o tempo em detrimento das mesmas também, e isso é sempre interessante analisar antes — por isso o planejamento. Quanto menor a criança, menor o tempo em atividades dirigidas e maior deve ser o tempo destinado ao brincar. Sobre a organização do espaço também ficam dicas de como melhor aproveitar o espaço externo e interno e as competências que podem ser desenvolvidas. Muitas vezes deixamos de nos questionar sobre o desenvolvimento da criança e na Páscoa, por exemplo, vamos presenteá-la com um livro (ou eleger um título para a hora do conto, na escola). Ótimo! Que criança não gosta de história? Porém, essa hora do conto pode ir por água abaixo se o livro escolhido não estiver de acordo com a faixa etária. Por isso, é necessária atenção. Vamos nos lembrar de acompanhar o processo de aquisição de conhecimentos, lembrar que as crianças não são um depósito que vamos despejando as informações. O desenvolvimento infantil requer calma e muito zelo. Vamos fazer do livro parte do dia a dia da criança! A hora do conto é o momento de formar os futuros leitores, e o ambiente desafiador do ponto de vista linguístico estimulará o interesse pela escrita. Achamos uma graça quando as crianças estão nos seus jogos espontâneos de faz-de-conta, imitando pais, professores, o apresentador da televisão, o personagem do desenho animado. Para as crianças, porém, além de ser prazeroso, é uma atitude séria. Através das brincadeiras e da imitação é que as crianças vão compreendendo o mundo em que vivem. Colocar o sapato da mãe é uma forma da menina se sentir integrante do mundo e aprender, se desenvolver. Através da brincadeira, o professor pode observar o que a criança carrega dentro de si, procurando descobrir quais são os desejos que ela representa enquanto brinca, e brincando, fazer as mediações, ajudando dessa forma na superação de si mesmo em busca do desenvolvimento.
Um capítulo que chamou muito a minha atenção foi sobre as práticas musicais. A falta de consciência quanto a nossa prática faz com que acabemos reproduzindo modelos que não estão de acordo com os objetivos que sonhamos alcançar. A simples repetição de ‘musiquinhas’ infantis, reproduzidas em datas comemorativas, não vai fazer com que a criança desenvolva aspectos da musicalidade. E música não é só cantar. É tocar, é pesquisar sons, é apreciar, é compor, por que não? É confeccionar instrumentos, é saber quem é o compositor. Dessa maneira, estamos contribuindo de fato em sua formação.
O texto acima é de autoria de Rosana Três, que resume sua vida em duas palavras: Arte e Educação. Ela escreve neste blog promovendo reflexões para que tu mesmo possa ‘educ-arte’ e, dessa forma, depositar a sua contribuição na caixinha onde diz ‘mundo’.
Educação Infantil, pra que te quero? - Resenha by Rosana Gazola