Como pensar em uma formação pautada na reflexão sobre a prática?
Como “incentivar” as educadoras a buscarem, através da leitura, a prática que
muitos teóricos falam em seus livros?
Freire (1997, p 35) nos faz compreender que não há educação sem
engajamento político, sem compromisso ético, sem rebeldia, sem respeito às
diferenças, sem amor pelos educandos, e é a partir dessa perspectiva, que temos
conduzido a prática de formação continuada, desenvolvida com as educadoras de
nossa creche, desafiando-nos a estudá-la, no sentido de compreendê-la. Além
disso, buscamos, junto com estas, alternativas para o trabalho na construção de
uma escola, que prime pela autonomia do seu corpo docente, das crianças e de
suas famílias, da equipe de apoio, ou seja, uma escola para todos.
Esse é um grande desafio, pois ao olhar para a prática de nossas
educadoras temos que olhar para o nosso próprio fazer, uma vez que atuamos
diretamente na sua formação, e somos portanto, produto e produtoras delas.
A formação não ocorre pelo acúmulo de recursos, palestras e técnicas, mas
através de um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e (re) construção
contínua de uma identidade pessoal.
Concordamos com Freire (1996, p.95) que sem a curiosidade não aprendo nem
ensino e que exercer a curiosidade é um direito que todos temos. Nesse sentido
acreditamos que os espaços de formação possam constituir-se em momentos onde
os docentes sejam instigados em sua curiosidade, experimentando
mundo, estabelecendo com o conhecimento uma outra relação não mais como algo
exterior a si próprio, como mercadorias, e sim como algo que os atravessa, os
transforma, algo conectado assim como a própria vida.
Kramer (2003), também defende que a formação dos educadores contemple
sua formação cultural, onde haja momentos em que estes possam não só apreciar,
mas também socializar suas experiências com a literatura, teatro, música, pintura
etc, sendo essa formação parte do processo de tomada de consciência de si e de
sua prática educativa.
Como Madalena Freire (2003), defendemos que também as educadoras
necessitam de um “outro”, um interlocutor que instigue o seu olhar, que atento aos
seus movimentos, suas hipóteses, provoque-as em suas certezas, problematize sua
pratica, e que, sem exigir imitação, ou intimidar, favoreça o encontro destes consigo
e com sua maneira de ser, que possibilite a eles abrirem-se ao mundo, aventurar.
Freire (1995 p 92) aponta também a necessidade de respeitar a identidade
cultural das educadoras, o que implica o reconhecimento da sua identidade de
educador: Quem sou eu nesse processo? Qual meu papel? Onde deposito minhas
esperanças? Que paixões me movem?